Há a história deste casal que numa tarde de sábado se encontra no shopping, a garota chega primeiro, ja estava sentada quando chega o rapaz que vai ao seu encontro lento e titubeante.
Não se beijam nem pegam nas mãos e nem trocam nenhum carinho e no entanto não estão brigados, ainda que estejam tremulos e com expressão nervosa, com um olhar duro daqueles que não saber pra onde ir, e, aflito procura onde pousar, pra algumas vezes parar um n'outro, nas vestimentas um d'outro, no cabelo, na boca, no jeito um d'doutro, de modo que aos poucos alguns sorrisos se acordem suaves e sutis e isto represente o momento do começo do gostar, quando se identificam com o nervosismo, com a gagueira, com a palavra errada alheia, dita, e condecentemente compreendida pela esperança do arquetipo positivo que se está a fazer, que é por enquanto apenas possível de vir no outro mas que na memória já se faz bonito, terno, novo, cheio de um futuro vigoroso. Na verdade se sabe que ontem, estes dois, também vieram ao shopping, no mesmo horário, ela entrou pelo estacionamento, ele pegou atalho por uma loja cara e sem arcondicionado, mas que dava acesso rapido a esta loja de roupas onde ele não sabia que ela olharia algumas peças, procurando não sei o quê e que nao encontrava, mas antes deixaria escapar com a inclinada abrupta porêm delicada do pescoço ao subir a escada, que o olhar pra ele pôde querer dizer levemente algo mais que olhar, embora ele se frustre sempre pela não-certeza inerente, e por temer a tarefa de corteja-la na selva de tecidos, na sessão feminina, quando apela pro bilhetinho covardemente e a atendente entende que ele está comprando presentes pra mãe ou pra irmã, ou até pruma namorada, que ele nem tem. Aliás, tem medo de ir até aquela menina que já parou um monte de vez de frente pra ele e olhou e olhou e esperou e depois sumiu e frustrou, até se encontrarem no dia seguinte, no banco em frente a loja de roupas, onde trocaram os ultimos olhares de figurantes até serem promovidos a protagonistas do filme um do outro.
Tudo isto, repara narrativamente, das câmeras da vigilancia deste shopping, um vigilante, que teve o faro certo e por romantismo que ele nem sabe por nome e se o tem, sacou tudo sem minimamente ouvir as vozes dos personagens, que até então não falaram muito, mas finalizaram esta história com um selinho no café Sabor e Arte. Esta é a história de dois românticos que pensaram exatamente do mesmo jeito, partindo apenas de um ponto vago, no universo do emaranhado de figurantes de uma urbanidade muitas vezes efêmera, outras nem tanto.